terça-feira, 14 de novembro de 2017

Azul - L'azur - "o azul do céu"

Anotações da aula do Raul Antelo do dia 30 de abril de 2014:

Azul – prosas profanas – Ruben Dario (adjetivo Mallarmaico)
Azur – poesia trovadoresca – fonte oriental. Aura que orna o objeto – azur=infinito
Blue - ponto de vista – azur-visão
Divino alento místico – vale enquanto alento místico
Platão – compreensão da arte provem do sopro
Teia mania – furor divino – o  poeta não cria com suas forças (não controla) aquilo que a divindade acaba soprando nele.

O vento perturbador. O filosofo põe ordem.

mallarmé:

L'azur
De l'éternel Azur la sereine ironie
Accable, belle indolemment comme les fleurs,
Le poëte impuissant qui maudit son génie
A travers un désert stérile de Douleurs.

Fuyant, les yeux fermés, je le sens qui regarde
Avec l'intensité d'un remords atterrant,
Mon âme vide. Où fuir ? Et quelle nuit hagarde
Jeter, lambeaux, jeter sur ce mépris navrant ?

Brouillards, montez ! versez vos cendres monotones
Avec de longs haillons de brume dans les cieux
Que noiera le marais livide des automnes,
Et bâtissez un grand plafond silencieux !

Et toi, sors des étangs léthéens et ramasse
En t'en venant la vase et les pâles roseaux,
Cher Ennui, pour boucher d'une main jamais lasse
Les grands trous bleus que font méchamment les oiseaux.

Encor ! que sans répit les tristes cheminées
Fument, et que de suie une errante prison
Eteigne dans l'horreur de ses noires traînées
Le soleil se mourant jaunâtre à l'horizon !

- Le Ciel est mort. - Vers toi, j'accours ! Donne, ô matière,
L'oubli de l'Idéal cruel et du Péché
A ce martyr qui vient partager la litière
Où le bétail heureux des hommes est couché,

Car j'y veux, puisque enfin ma cervelle, vidée
Comme le pot de fard gisant au pied d'un mur,
N'a plus l'art d'attifer la sanglotante idée,
Lugubrement bâiller vers un trépas obscur...

En vain ! l'Azur triomphe, et je l'entends qui chante
Dans les cloches. Mon âme, il se fait voix pour plus
Nous faire peur avec sa victoire méchante,
Et du métal vivant sort en bleus angelus !

Il roule par la brume, ancien et traverse
Ta native agonie ainsi qu'un glaive sûr ;
Où fuir dans la révolte inutile et perverse ?
Je suis hanté. L'Azur ! l'Azur ! l'Azur ! l'Azur !


Ruben Dario   (livro: "AZUL"):

ele explica na segunda edição de 1890:  "... el azul era para él "el color del ensueño, el color del arte, un color helénico y homérico, color oceánico y firmamental"

* há indicações que o azul é meio que um símbolo do modernismo

(interessante que na primeira edição existe um "conto" chamado  "La ninfa")

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Biscoitos sortidos com gosto de angústia
Carolina da Nova Cruz

Venho aqui expressar minha extrema insatisfação com um produto que acabei de consumir. Fui ao mercado entediado, naquele dia em que todos os compromissos parecem pesar mais que de costume. Com gordas notas reais, aproximei-me do caixa com um belo pacote dos novos biscoitos Gula, amplamente propagandeados nas grandes mídias. Bordas de chocolate, recheio de doce de leite uruguaio da melhor qualidade. A promessa da felicidade certa. Qual não foi minha surpresa quando, à primeira mordida de meu biscoito, me senti de volta ao primeiro dia de escola, quando minha mãe não foi me buscar e eu me perdi de volta para casa. Uma lágrima escapou-me do canto do olho, ainda na saída do supermercado. Pensando que, quem sabe, era apenas o primeiro biscoito que estava com defeito, provei um outro. Morango com leite condensado, crocante. Para meu terrível espanto, uma sensação fria percorreu minha espinha, e estive por longos momentos debaixo de um bote prestes a afundar, tamanha era minha falta de ar e de sentido. Tremia tanto que atirei longe o pacote. Um pedinte que passava na rua o recolheu do chão e, antes que eu pudesse avisá-lo, colocou vários biscoitos na boca, de uma só vez. Limão siciliano e chocolate belga, se não me engano. Soltou um gemido tão alto, tão desesperado e chorou tanto e tão profundamente, que chegou a ganhar três moedas de uma vez só. Talvez para ele tenha sido bom, afinal.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

concerto kleber alexandre - 21/10



Oi pessoal!!!
gostaria de contar com os camaradas!!!
Os convites para os nucleocos e respectivos companheiros(as) é de presente. Para os amigos e afins, eu consigo descolar ingressos por 10,00.
abs

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

trilha para filme de Carlos Rosa - link para vídeo


oi pessoal
aqui dá para assistir:

https://youtu.be/gZ3ZDBaC14c

se tiverem tempo, deem uma olhada no vídeo do Felipe Vernizzi, sobre meio ambiente, preservação do Jundu (ele utilizou como trilha uma composição minha) é um trabalho bem bonito.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Trilha para o filme do carlos rosa

Oi pessoal.
então, não sei se vcs irão se lembrar, mas no dia daquele nosso evento hermético, o Carlos Rosa, aluno da Unisul veio junto com o orientador dele, o grande Alexandre Link Vargas... daí logo naquele dia após aquele (de acordo com o André) meu pocket show, o Carlos perguntou se eu não topava compor um som para o filme dele que era o trabalho de encerramento da disciplina, acho..
mas então, ele filmou uns feras no slackline, num evento bem em cima do mar...muito massa!!!
daí tinha a imagem, e o contraste entre a busca do equilibrio dos caras, a figura feroz do mar ao fundo, a ideia do nome do filme que era acordes (acho que por causa da corda), o inesperado que poderia ser a queda..enfim...um filme muito interessante, inquietante...
eu entrei na viagem, e quis que a trilha fosse composta na mesma vibe, ou parecendo a vibe dos caras ali.. ou seja, me equilibrando também, sem saber bem o que ia acontecer, tipo improvisando mesmo, de primeira...o que sair saiu....compreendem?
lógico que assisti ao filme algumas vezes, e saquei algumas estruturas, acontecimentos, cortes, etc...
bolei uma sonoridade com uma afinação diferente no violão, que me lembrava uma atmosfera do mar revolto; quis dar uma pincelada de brasilidade, para remeter ao lugar da filmagem mesmo, afinal os caras são gringos mas estavam aqui, no Brasil.
daí eu soltei o filme e liguei o gravador de audio, tipo o do Rafa...e saiu isso que está no vimeo...
o louco é que, quando assistimos aqui o filme sem a trilha, dava um angustia incrível, aquele mar e os caras buscando uma leveza, um controle, um equilibrio..dava meio que uma sensação de medo.
depois com a trilha, virou outra coisa...outras vibrações...
gostaria muito, no que se refere a trilha mesmo, que vcs pudessem compartilhar impressões, até para eu melhorar em coisas futuras...
por conta da proposta de ser de primeira, tem uns raspões nas sonoridades, umas imperfeições, que se eu tocasse de novo, perderia a coisa de espontâneo, que era a ideia inicial...eu acho que vale a pena o risco...deixar do jeito que saiu mesmo com possíveis erros (se bem que mostrei para um amigo meu fera de violão que disse que não percebeu nada de errado)...
abs, segue o link:

 https://vimeo.com/211428144

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Esquemas da Experiência Interior

Carolina Nova Cruz

Se o não sentido é o sentido, o sentido que é o não-sentido se perde, volta a ser não-sentido (sem parada possível).


Da página 87 de A Experiência Interior, Georges Bataille.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Para quê matar o prestidigitador?

pg. 38 - A experiência interior - Georges Bataille

"Já faz algum tempo que a única filosofia ainda viva, a da escola alemã, tende a fazer do conhecimento último a extensão da experiência interior. Mas essa fenomenologia atribui ao conhecimento o valor de um fim a que se chega pela experiência. É uma aliança capenga: o papel atribuído à experiência é ao mesmo tempo demasiado e não bastante grande.  Os que lhe atribuem esse papel devem sentir que ela transborda, por um imenso possível, o uso a que se limitam. O que preserva em aparência a filosofia é a pouca acuidade das experiências de que partem os fenomenólogos. Essa ausência de equilíbrio não sobrevive à colocação em jogo da experiência que vai ao extremo do possível. Já que ir ao extremo do possível significa no mínimo isto: que o limite que é o conhecimento como fim seja transposto."

Aforismo 6 do Livro 1 - Aurora - Friedrich Nietzsche - Tradução Paulo César de Souza

"O prestigitador e seu oposto - O que é espantoso na ciência é o contrário do que é espantoso arte do prestidigitador. Pois este quer que vejamos uma causalidade bem simples onde atua, na realidade, uma causalidade bem complexa. Enquanto a ciência nos faz abandonar causalidades simples onde tudo parece facilmente compreensível e nós somos os bufões da aparência. As coisas 'mais simples são muito complicadas - não podemos nos maravilhar o bastante com isso!"

Itálicos do texto original. Negritos meus.


Resumo:
Na fenomenologia o papel atribuído à experiência é ao mesmo tempo demasiado e não bastante grade. É preciso abandonar essa fenomenologia já que não é possível se maravilhar com coisas que são muito complicadas.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Recapitulação

Carolina Nova Cruz

Experiência interior - George Bataille

No último encontro oco, recapitulamos nossos encontros com Bataille.
Fiquei de escrever aqui palavras-chave.

Nos encontros, os membros variaram. Dois foram fixos: Georges e Fernando. Bataille e Scheibe. Encontros com fantasmas, mortos e vivos.
O fantasma vivo nos disse em prefácio que precisaríamos de intensa paciência, de inteligente acefalia. E o tivemos.

Por momentos entendemos tudo e de repente mais nada. Por dias lemos muito, em outros poucas linhas. Engraçado que retomando os conceitos para publicar essa recapitulação vejo que o ritmo da nossa leitura, fragmentada e tropeçante, se confunde com o ritmo das palavras de Bataille. Ou talvez tenha sido só preguiça.

Enfim, retomando. A experiência interior começa com um preâmbulo.
Bataille nietzschianamente diz o que quer do seu escrito: que seja um espaço em que profundidade e jovialidade deem as mãos.
E posiciona, de pronto, o grande ponto de interrogação. O eleva a um patamar por ele nunca antes visto, na história (desse pensamento filosófico?)
E fala dos propósitos do livro e de onde ele surgiu: se trata de um relato de desespero.
Um texto surgido do sofrimento do desintoxicado. E desde cedo declara: não foi suficiente sem ser insuficiente. Não teve sucesso em não querer ser tudo. Resta uma vontade de suficiência, algo da tradição que Bataille recusa e detesta em seu livro.
Mas também anuncia que em momentos o pensar se perdeu por inteiro, e se encontrou no ponto onde ri a multidão unânime. Talvez tenhamos nos encontrado na leitura onde unanimemente nos perdemos, cada um de um jeito.

E de repente chegamos no esboço de uma introdução à experiência interior.
Aqui reparo que Bataille parece balançar entre uma humildade cristã e um orgulho megalomaníaco. Em poucas linhas temos um esboço de um projeto de uma introdução fracassada e uma radicalidade nunca antes vista na filosofia, assumidas com a mesma intensidade pelos escritos.

Na crítica da servidão dogmática (e do misticismo),  Bataille aproxima, por hábito (e crença?) a experiência interior dos estados de êxtase religioso. Mas faz logo uma distinção: ao contrário da experiência mística, Bataille procura uma experiência nua e livre de amarras, que se afasta do teor confessional do misticismo.
O dogma forneceu limite indevido à experiência. O fato de Bataille reconhecer limites indevidos não quer dizer que não haja limites nesse pensamento: e sim que os limites foram postos muito aqué do extremo do possível. Vejo aqui um convite para esticar a vida ao extremo, não reconhecer amarra alguma que não seja a amarra última: aquela que não leva a lugar nenhum: e sim aquela que extravia.

Sobre o poético, deus e o desconhecido, nos detivemos bastante, não chegando a lugar nenhum (aqui não consigo deixar de pensar que Bataille ficaria exultante com isso).
Algo que aparentemente concordamos foi: tanto Deus quanto o poético geram uma parada no movimento que leva à uma aproximação do desconhecido, da forma mais obscura e portanto mais perto do extremo do possível. Já que afinal o desconhecido exige um império sem partilha.

A experiência, única autoridade, único valor
Aqui lemos o paradoxo da ideia de projeto: a recusa do projeto que não deixa de ser por si só uma espécie, ainda que peculiar, de projeto.
O que Bataille opõe a ideia de projeto (que recusa) é a decisão.
A experiência é a autoridade e valor.
Atinge a fusão do objeto e sujeito - um lugar de comunicação, uma entrada em um si mesmo, que não procura do lado de fora as autoridades.
Sujeito: não-saber. Objeto: desconhecido.
E assim saber científico se separa da experiência, e assim Bataille se afasta da Fenomenologia, aquela que persiste na tentativa frustrada do projeto de ser humano: unir experiência e saber.


Em princípios de um método e de uma comunidade, chegamos à importância da dramatização. Se não soubéssemos dramatizar, viveríamos isolados e apertados.
Isolado e apertado é tão difícil de imaginar quanto uma ilha cercada de terra. E ao mesmo tempo não é difícil se sentir isolado e apertado em momentos de angústia. Porque a angústia é ambígua. Em um mundo em que não se consegue apoiar em coisa alguma, a ironia está livre.
E de repente o texto se debruça sobre o texto: sobre o paradoxo que é procurar o silêncio escrevendo. E ao escrever quebrar o silêncio. A palavra silêncio é ainda barulho.
Ainda assim, subsiste em nós uma parte muda, esquiva e inapreensível. Ligados à pureza do céu, ao cheiro de um quarto, de forma que a linguagem é despossuída.

E aqui coloco alguns termos-chave:

É preciso, ou pré-requisitos, para a viagem ao extremo do possível
Não querer ser tudo
Angústia e desejo prévios
Pathos de algum tipo
Serem negadas as autoridades, os valores existentes, que limitem o possível.

Autoridade
A experiência

Experiência
"É a colocação em questão, na febre e angústia, daquilo que um homem sabe do fato de ser".
"É uma viagem ao extremo possível do homem".

Desconhecido
Exige um império sem partilha
Não é apreensível

Projeto
Decisão - Ataque ao projeto
Paradoxo (não contradição)
O projeto é não ter projeto
Seu "projeto" é inapreensível, é aquilo que nos ultrapassa. Mas o que usa para chegar, ou descrever o processo de busca, é a linguagem. A linguagem mesma do que recusa.
Usa termos centrais da tradição que nega.
O texto é indeciso, tropeça, diz e desdiz, muda de forma no mesmo parágrafo.
O aspecto linguístico: mostra a radicalidade da proposta.
A linguagem, com exceção da perversão poética, é projeto.

Ascese
É recusada: o extremo é atingido por excesso, não por falta.

Tradição
É coletiva, reconhecível


e Um paralelo bonito, pensado pelo Fernando


As imagens transtornadoras e os meios-termos aos quais recorre a emoção poética nos tocam sem dificuldade. Se a poesia introduz o estranho, ela o faz pela via do familiar. O poético é o familiar dissolvendo-se no estranho, e nós mesmos com ele. Ele nunca nos desapossa totalmente, pois as palavras, as imagens dissolvidas, estão carregadas de emoções já sentidas, fixadas a objetos que as ligam ao conhecido.

com...

As palavras se sujam de nós na viagem
Os rios recebem, no seu percurso, pedaços de pau, folhas secas, penas de urubu
E demais trombolhos.
Seria como o percurso de uma palavra antes de chegar ao poema.
As palavras, na viagem para o poema, recebem nossas torpezas, nossas demências, nossas vaidades.
E demais escorralhas.
As palavras se sujam de nós na viagem.

Mas desembarcam no poema escorreitas: como que filtradas.
E livres das tripas do nosso espírito.
Manoel de Barros

Sinto que Manoel de Barros se junta com Bataille no momento em que, na poesia, a linguagem deixa o projeto, se livra das tripas do espírito e se torna soberana. Poesia é a festa da linguagem. O respiro oco que deixa ver uma fresta, onde a linguagem não pode dizer, onde o projeto não pode planejar. Algo que deve ter a ver com um vento no rosto ou o cheiro de um quarto.

E algumas distinções que conversamos também:

Deus
Poético
Desconhecido
Apreensão daquilo que nos ultrapassa
Apreensão daquilo que nos ultrapassa
Não apreende
Carga emocional
Carga emocional
Nos deixa frios


Um estranhamento meu:
Bataille diz que é preciso ser um homem inteiro, não mutilado: que é preciso escolher a vida árdua e atormentada que corresponde à via do homem inteiro.

Mas o homem inteiro me parece tão estranho, já que Bataille insiste muito em não buscar querer ser tudo, querer ser pleno, querer ser (inteiro?). Bataille a todo tempo recusa essa vontade de suficiência. Mas talvez o homem inteiro não seja o homem pleno, e sim o homem aberto a buscar, apesar da dor, o caminho ao extremo do possível. O que acham?

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Contra quem?

Afinal, esse tal de núcleo oco está contra o quê? Tô contra isso aqui ó:
https://youtu.be/QhXKLOybom4

Contra esse tipo de argumentação. De entendimento de arte. Contra a defesa de uma arte verdadeira. Que enobrece a humanidade.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

7h30, 30 de maio de 2017, Florianópolis, UFSC
Dia preguiçoso, chuvoso
Aula da psicopatologia
Tema: suicídio
Às 7h30 da manhã estudar o comportamento suicida
Todos anestesiados
Todos achando tudo isso bem normal

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Colônia del Sacramento

bem, gente
esse aqui também é um experimento
pra saber se eu sei, e como fica
a postagem no blog oco
feito assim,
com a foto ao lado
o texto ao lado
e um beijo em cada um
desses amigos tão vazios
Tríplice base
ou
Manifesto pela mutilação do sentido
ou
Porquê um pensamento infantil é mais sábio que um pensamento adulto
ou
A vida é bela
Carolina da Nova Cruz, janeiro de 2017.
Amelie
"A maturidade do homem é reaver a seriedade da criança ao brincar" - Nietzsche
Amelie Poulan encontra uma caixinha de lembranças escondida no assoalho de seu apartamento e decide, como que em uma brincadeira, que se essa caixinha afetasse o seu dono depois de tantos anos ela começaria a mudar a vida das pessoas.
Explico o porquê que essa decisão faz (pelo menos tanto sentido quanto) uma decisão chamada madura ou racional pelo homem ocidental.
Essa forma de vida aceita a incapacidade humana de saber se estamos acertando ou errando ao tomar uma decisão.
Essa forma de vida aceita o caos presente na vida, que homem moderno tenta, a todo tempo, reduzir à sua racionalidade.
Essa forma de vida brinca, com seriedade. Não nega a tragicidade do cotidiano, mas entrega-se a ela.
Essa forma de vida ironiza qualquer pretensão analítica (seja psicológica, científica, religiosa) abraçando o acaso como inerente à vida.
Essa forma de viver nada tem de utópica, idealista, ou imatura, como pode ser chamada por olhos pouco atentos. Ela representa uma tomada radical de posição em relação à ética de viver, posição essa extremamente sólida.
O que sustenta essa forma de viver recusa a meritocracia e qualquer noção de progresso.
Essa forma de apreender o mundo coloca lado a lado uma criança de três anos e um doutor em filosofia. A diferença é que o doutor em filosofia tem de trilhar um caminho árduo em busca da reconquista dos seus olhos infantis.

Tanque de guerra
O pai de a vida é bela dança um balé trágico com a vida, com a realidade dada.
Ele é extremamente sério ao inventar, ao escolher a vida.
Seriedade aqui nada tem a ver com rigor científico, moderno.
Seriedade tem a ver com abraçar sua responsabilidade de homem, e portanto de inventor de vida, diante da situação. Ao inventar (escolher) por seu filho, o pai escolhe pela humanidade e cria um mundo, cria o mundo, outro mundo.
Mundo possível diante da impossibilidade do mundo.
Um mundo onde a beleza está em primeiro plano.
Os encontros coincidentes que criam mágica por onde o pai passa mostram a potência de humanidade em um homem.
A potência de inventar mundo.
De criar encontros.
De fazer tudo isso por amor.
De fazer tudo isso por amor a uma criança.

Solidão na América Latina
Cem anos de solidão narra a potência caótica, mágica, estética, dos encontros
Encontros de mulheres com mulheres, com homens, com o clima, com a arquitetura.
A forma de narrar é realista e é mágica pois não procura outro lar para magia
Percebe que o lugar onde a magia mais se encaixa é na própria realidade, que o pensamento moderno viciou-se em contrapor com a magia
Nada é mais surreal que a realidade, nada é mais mágico do que a vida cotidiana na América Latina.
O narrador, em cem anos de solidão, é sensível a isso. Não procura causalidade, sentido. Mostra apenas. Mostra a beleza, a tragédia bela da vida. Mostra, como quem brinca de contar história, assim como Amelie e o pai parecem brincar de viver.

Eles reconquistaram a seriedade da criança ao brincar.
Retomaram o poder, por vezes escondido, de cada pessoa criar um mundo a cada dia.
É por isso que esse modo de vida nada tem de utópico, idealista ou pouco sofisticado.

Esse modo de vida se dá com a criança que brinca a cada manhã no sul do Brasil
Esse modo de vida se dá em algumas páginas da filosofia de um filósofo alemão do século passado
Esse modo de vida se dá nas esquinas do mundo, onde um artista pinta algo que imaginou.

E nada sustenta que esse modo de vida seja pior que qualquer outro.





Reamanhecendo, Papillon estivera: Caterpillar.
Descobertas miríades antecedem: busca.
Amor infinitesimalmente atualiza desamor.
...Toujours?

Flor esvanecida, água suja, natureza morta sobre a mesa
desamanhece ao lado.
Rebrota.
Dobra a perspectiva, repetição.

 Diferencia.

Querer ser, conseguir ficar.
Derreter-se para escorrer entre os dedos
da própria mão fechada.
E escorrer.
Empoçar depois da tempestade.
Água de enxurrada.
Lágrima seca
pelo calor do sorriso chorado.

Ser descontínuo
morre para viver?


                                          



Lábios de Seda - Umas talvez poesias

                                             



                                                           Lábios de Seda 


                                                          -Umas Talvez poesias


                                                            Kleber Alexandre



                                                                    2014.1



Essas umas (publicadas aqui nesses dias) eclodiram das leituras transversais das disciplinas que cursei no doutorado de Letras na UFSC.
Raul Antelo e Maria Lúcia de Barros Camargo eram os professores.
O computador foi o meio. Nada de lápis ou caneta. Papel, só depois.
Não sei se para leitura. Ou se para soar.
Sei que não é para todos. Mas se para todos, muito bem.

Houve um dia uma assim:



Fria manhã
Céu calado
O mundo reza a seu modo
Nada,
Só o murmúrio do vento
A cortar os seus
lábios de seda.


Mas é para essa outra – que dedico essas umas:



As portas da cidade se abriram e tal qual bandos de lobos errantes poetas famintos invadiram as estruturas: nas bibliotecas ricos acadêmicos e seus banquetes de livros - nas calçadas mendigos dividindo um pedaço amanhecido de versos livres.